É fato que com o tempo existe uma tendência de se esquecer algo que foi estudado. Contudo, não existe uma regra geral que se aplique a todos os assuntos estudados e nem a todas as pessoas. Eu gosto de dar um seguinte exemplo: imagine que você encontra a mulher mais linda desse planeta e ela está dando mole para você. Então, ela te convida para sentar. Depois disso, diz o nome dela e o hotel onde está, e que você deve ir pegá-la a noite em determinado horário. É provável que depois de 20 anos, mesmo sem revisar essa informação, você jamais esqueça esses dados. Isso mostra que o processo de memorização é complexo e depende de muitas variáveis. 

Apesar disso, existe uma curva que desenvolvida por Ebbinghaus chamada de curva do esquecimento. A curva mostra a quantidade de informações que perdemos após 24 horas, 7 dias e 30 dias. Essa curva fez com que fosse espalhada pela internet uma metodologia de revisões espaçadas em 24h, 7 dias e 30 dias. Só que na prática, a teoria é outra.

O primeiro problema é que a curva de Ebbinghaus possui diversas limitações. Primeiro foi feita com base em um autoestudo. Ou seja, a curva é resultado da perda de conhecimento do próprio autor da curva. Ninguém mais foi estuado. Além disso, o experimento era baseado em memorizar uma lista de palavras. Ora, decorar uma lista de palavras sem conexão é totalmente diferente da leitura de um texto ou do estudo de conceitos de raciocínio lógico. Isso já deixa frágil o uso dessa metodologia de forma generalizada. 

Não o obstante a crítica sobre a base teórica da metodologia, o problema maior dessas 3 revisões é seu aspecto prático. Em um concurso de alto nível, você terá uma quantidade enorme de matéria para estudar. Se a cada passo dado, você tiver que incluir 3 revisões, você levará pelo menos, o dobro do tempo do seu concorrente para concluir uma matéria. Sinceramente, eu duvido que as pessoas que defendem essa técnica tenham usado essa técnica. Até hoje, não conheci alguém que implementou essa estratégia por muito tempo. E pior, já ouvi relatos de alunos que não conseguiam e sentiam-se frustrados sem saber como se fazer as revisões.

Como já alertei diversas vezes, não há receita de bolo. O que deu certo para mim não quer dizer que vai certo para você. O problema é que as pessoas sempre querem uma receita de bolo. Algo pronto. E do outro lado, sempre há alguém querendo vender um segredo de como passar.   

Uma vez que o processo de memorização é complexo e existem limitações na curva de Ebbinghaus, especialmente no contexto de estudo para concursos, é essencial abordar estratégias alternativas de aprendizado que possam ser mais eficazes para diferentes perfis de estudantes. A compreensão de que não existe uma única metodologia que funcione para todos é o primeiro passo para desenvolver um plano de estudos personalizado e eficiente.

Um aspecto fundamental é identificar seu estilo de aprendizado preferencial: visual, auditivo, leitura/escrita ou cinestésico. Conhecendo a forma como você aprende melhor, é possível adaptar os métodos de estudo para otimizar a retenção de informações. Por exemplo, estudantes visuais podem se beneficiar de mapas mentais e flashcards, enquanto auditivos podem preferir aulas em áudio ou discussões em grupo.

Além da revisão periódica, técnicas de estudo ativo, como a prática de exercícios, ensinar o conteúdo para outra pessoa, ou até a utilização de métodos como Pomodoro para gerenciar melhor o tempo de estudo, podem aumentar significativamente a retenção de conhecimento a longo prazo. A prática constante e a aplicação do conhecimento em diferentes contextos ajudam a solidificar a aprendizagem.

Outra técnica que tem se mostrado eficaz é o entrelaçamento, que consiste em misturar diferentes assuntos ou tipos de problemas durante a sessão de estudo. Isso contrasta com a abordagem tradicional de estudar um único tópico por longos períodos. O entrelaçamento ajuda a melhorar a capacidade de distinguir entre conceitos semelhantes e a aplicar o conhecimento de maneira mais flexível.

Embora as revisões nas marcas de 24h, 7 dias e 30 dias possam ser muito restritivas, a ideia de repetição espaçada ainda é valiosa. Adapte a frequência das revisões ao seu ritmo de aprendizado, considerando a dificuldade do conteúdo e sua familiaridade com o assunto. Ferramentas digitais de repetição espaçada, como aplicativos de flashcard, podem ser personalizadas para otimizar esse processo.

Não menos importante, a manutenção da saúde mental e física é crucial para o sucesso nos estudos. Práticas como meditação, exercícios físicos regulares e uma alimentação balanceada contribuem para um melhor desempenho cognitivo. Além disso, é fundamental evitar o esgotamento estudando de maneira equilibrada, com pausas adequadas e tempo para lazer.

Em vez de buscar uma fórmula mágica ou um método único de estudo, o caminho para o sucesso em concursos passa por entender suas próprias necessidades, habilidades e limitações. Personalizar sua abordagem de estudo, experimentando e ajustando técnicas para encontrar o que melhor funciona para você, é a estratégia mais eficaz. Lembre-se de que a flexibilidade e a adaptação são chaves para um aprendizado eficiente e duradouro.